29 de março de 2009

Um relato do descaso do poder público com a cultura

Recebemos o email abaixo de um dos integrantes da banda Amplexos, que mostra bem qual a realidade enfrentada por muitos artistas ao lidar com as políticas públicas de fomento à arte e cultura no Brasil. Infelizmente, em muitas cidades essa situação se repete.

"Olá,

Em Agosto de 2008 (ano de eleição), a Prefeitura de Volta Redonda aprovou mais ou menos 30 projetos culturais, no valor de 500 mil reais, de música, teatro, literatura, artes plásticas entre outras coisas. O projeto de lançamento do disco da Amplexos (prensagem de 1000 cópias em SMD) estava entre os aprovados, e era um dos mais baratos - já que não previa gravação, mixagem (o disco já estava pronto).

A promessa é que os projetos todos seriam colocados em prática em 3 meses. Durante esses 3 meses, entrei em contato algumas vezes com a Secretaria de Cultura - para saber a situação do projeto - e sempre fui pessimamente recebido pelos funcionários. Má vontade, desorganização e falta de compromisso era comum naquele lugar. Passado o prazo de 3 meses e, coincidentemente (?), as eleições, procurei a Secretaria para ter uma resposta definitiva, que foi:

- Infelizmente, o prefeito suspendeu todos os projetos culturais e, agora, só no ano que vem mesmo é que eles vão sair. Mas pode ficar tranquilo que no começo do ano a gente já começa a procurá-los.

Eu, lógico, não fiquei tranquilo. A tal "Lei de Incentivo à Cultura de Volta Redonda" já havia sido divulgada para toda a imprensa local (Diário do Vale, principalmente) e nacional (Jornal do Brasil, Blogs e Revistas especializadas em música, na internet) e a Prefeitura de Volta Redonda era, então, vista como competente e com a fama de dar estrutura aos seus artistas. A partir da notícia de que os projetos não sairiam (e a partir de todo o tratamento amador que eles me deram sempre) eu decidi que esperaria, mas não divulgaria mais a tal "Lei" e o nome da cidade.

Sexta-feira passada era o "Dia D": Fui até a Secretaria de Cultura, procurei o Moa (o Secretário de Cultura) que, como sempre, "não pode" me atender. Ok, falei com a recepcionista e ela sugeriu que marcássemos uma reunião com ele (depois de muita insistência da minha parte) na próxima sexta (hoje, 27/03). Durante a semana, ela me confirmou a reunião e eu iria até Volta Redonda (já que moro no Rio) só para isso.

Hoje, sexta-feira, 27/03, fui até a Secretaria, disposto a conversar com o Moa sobre o projeto e ter uma resposta definitiva (Vai sair? Não vai? Quando? Que dia?). Chegando lá, ele não me atendeu.

É, ele não me atendeu. Reunião marcada, compromissos meus desmarcados pra encontrá-lo, cheguei às 9:30 (sem nenhum atraso) e... ele não me atendeu. Como assim? Cadê o profissionalismo? Cadê o compromisso?

Enfim... conversei com a Graça (única simpática e atenciosa funcionária de lá), que me disse que o Moa não tinha as respostas que eu queria. Segundo ela, os projetos seriam olhados em Abril ("Mas que dia, Graça?"). Infelizmente, eu não posso mais conviver com essa incerteza e essa falta de compromisso e de profissionalismo. Não queremos mais o apoio da Prefeitura. Em um mês, o disco estará em nossas mãos, pago por nós, com nosso esforço, dedicação e PROFISSIONALISMO.

Eu não quero depender de uma Secretaria de Cultura que não sabe dar estrutura para o artista que faz um trabalho relevante. Não quero me envolver com pessoas que me tratam como um amador, como uma criança. Não quero ter que fazer negócios com um Secretário de Cultura que está lá há 12 anos e nunca ajudou a nenhum artista, dando base para que ele aparecesse nacionalmente; um Secretário de Cultura que não vê diferença entre "Chico Buarque" e "MC Créu"; um secretário de cultura que não conversa com os artistas pois tem medo de não saber responder o que eles perguntam.

Não quero.

Não dependemos deles. E se depender da Amplexos, a guerra está declarada.

Abraços carinhosos e esperançosos a todos.

Guga
www.amplexos.com
www.myspace.com/amplexos"

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