17 de janeiro de 2010

Praia da Estação, o hit do verão


Manhã ensolarada de sábado em Belo Horizonte. Na Praça da Estação, no centro da cidade, um pequeno grupo protesta contra a prefeitura reunido sob a sombra da única árvore do local. “Protesto?”, se surpreendem alguns transeuntes com a calmaria da manifestação. Sob o olhar atento e curioso da polícia e da guarda municipal, que ficam de longe, aos poucos mais gente vai chegando, carregando suas cadeiras e sombrinhas de praia. Estendem suas toalhas no chão da praça, tiram os shorts, as camisas e se cobrem de protetor solar. Um grupo começa a jogar peteca, outro frescobol. Alguém passa avisando que as fontes da praça serão ligadas às 11 horas. Ninguém sabe o que vai acontecer. A manifestação não tem líder. Nasceu na internet, fruto da indignação da população com a recente lei municipal que proíbe qualquer tipo de evento na praça e que, como um tiro no pé, acabou juntando os realizadores e frequentadores dos eventos na praça em torno de uma causa. As pessoas conversam, sugestões surgem e a “Praia da Estação” vai ganhando forma espontaneamente a cada minuto. A imprensa (Hoje em Dia, R7, Jornal Estado de Minas) fica sabendo e comparece. Instrumentos de percussão começam a surgir e por volta da hora do almoço a calmaria se perde em meio ao batuque e gritos de guerra como "Hey polícia, a praia é uma delícia" ou "Lacerda (prefeito da cidade), sua vida é uma merda".

Dá 11 horas e as fontes não são ligadas. A prefeitura diz que elas “estão em manutenção”. O forte calor e a falta de água preocupam. Surge a idéia: vamos chamar um caminhão pipa! Uma garota passa arrecadando o dinheiro da vaquinha e cerca de 2 horas e R$ 150 reais depois, para delírio geral, um caminhão pipa realmente estaciona na caótica avenida Andradas, bem em frente à praça. Os automóveis na avenida diminuem a velocidade ao passar e as pessoas observam pela janela não acreditando no que estão vendo. Cerca de 300 pessoas de sunga e biquini estão sob a ducha de água pulando, tocando e gritando “Praia da Estação, o novo hit do verão! Toda semana!”. A cena é inacreditável. Um manequim apelidado de Lacerda é hostilizado enquanto uma faixa onde se pode ler a frase "A praça é do povo" é pregada no caminhão pipa. Gente voltando do trabalho adere à festa e para completar o cenário surreal um sujeito vestido de surfista em pleno centro da capital mineira chega carregando uma prancha e surfa sobre o público. Certamente uma das ações mais legais, honestas e criativas que Belo Horizonte já presenciou.

Sobre o decreto

O mais interessante é que quando a praça foi reformada no começo da década a prefeitura, que hoje afirma que a proibição foi adotada para preservar a praça, gastou uma fortuna reformando o local alegando que a obra iria promover "a revitalização do espaço público, dotando-o de infra-estrutura adequada para manifestações culturais com grande aglomeração de pessoas" (DOM de 2001).


13 comentários:

luizgabriel.lopes disse...

ducaralho, leo. belo estilo, afetivo e objetivo. toda semana!! hehehe

Ju Semedo disse...

"uma das ações mais legais, honestas e criativas que Belo Horizonte já presenciou, hein? Na minha opinião, mais uma vez a juventude de hoje reivindica pelas coisas certas, mas de um jeito errado. Não virou motivo de chacota isso, não?

Unknown disse...

lembraram de chamar aquela que foi presa tomando sol na praça raul soares?

Magno Coelho disse...

Eu realmente achei uma ação funcional.
Contra a opinião de Juliana, não acho de forma alguma que foi uma reividicação do jeito errado. O verdadeiro objetivo era chamar a atenção da população para o problema, e o objetivo foi REALMENTE alcançado.
Melhor alcançado que muitos protestos que ja fizemos (nada pacíficos e nada divertidos).
E também sou contra o evento se tornar algo semanal, na verdade sou muito a favor de organizar um encontro de pessoas divertidas que estão afim de se refrescar na praça em pleno verão, porém NÃO com a "desculpa" de um protesto. Isso sim seria motivo de chacota e tiraria o sentido total do sucesso do protesto realizado. Mudaria de "protestar e se divertir" para "Se divertir com a desculpa de protestar".
Lembrando que isso é SÓ a minha opinião.

Unknown disse...

É isto mesmo, manifestação sensata e justa!!! Se nao por a boca no trombone ninguem fica sabendo e os governantes nao se importam, mostrar é a solução!!!!! DE PARABENS A TODOS OS MANIFESTANTES!!!!

Unknown disse...

doido demais.. quando sera a proximaaa

Ju Semedo disse...

Eu concordo com a reivindicação, fique claro, inclusive, fiquei sabendo que a decisão do Márcio Lacerda foi pressionada pela Ângela (é esse mesmo o primeiro nome dela?) Gutierrez, pq os eventos estavam depredando o Museu de Artes e Ofícios.Também acho que Praça é local de evento, e antes de tudo é um local público, só acho que existem outras formas de pressionar o governo, sabia que dá pra fazer isso diretamente. Todos os governantes são obrigados a ouvir a população. Maneirar o tom que se fala em relação à autoridade tbm seria uma boa, se não o protesto perde a razão, fica vazio demais, bobo demais. De qualquer forma, concordo que o evento mobilizou, afinal de contas, está todo mundo comentando. Só espero que a prefeitura volte atrás no decreto, ainda tem jeito?

diOli disse...

iuhuuuu
pula saí do chão
é a praia da estação

eeeeeeeeeeeeeeee

Ju Semedo disse...

Esse caso está bom para virar matéria do Proteste Já no CQC, Rá!

blogdamodesta disse...

Vamos enviar para o CQC. Acho bom pensar o dia da próxima imediatamente. O bairrismo toma conta de BH, não podemos permitir isto. Corrigindo o jovem lá em cima,não é manifestação apenas de jovens. Participo do jeito que posso, apesar de ter mais de 50 anos e doença de parkinson. Enviem e-mails para
anarquia2007@uol.com.br
Abraços, e até a próxima.
Modesta Trindade Theodoro

wwwfotografeimasnaopostei disse...

Ju, Juliana, Ju Semedo,

não sei se são uma ou mais, mas vamos lá. Acho que a ideia de sociedade e governo que você tras é uma ideia romantica e longe da realidade. Outras formas de protestar? Quando se parte para o protesto se tem claro que o caminho do dialogo não está efetivamente aberto, se estivesse teria sido resolvido com um dialogo, com uma audiência. Mas não se engane que nem sempre a "abertura ao dialogo" do governo é tão verdadeira quanto pode ser o dialogo com um surto que não faz leitura labial nem usa linguagem de sinais. O dialogo é só uma ensenação.
Quanto a juventude de hoje fazer de forma errada eu pergunto: qual a forma certa? Não me responda com uma visão cor de rosa de que há vias institucionais e que o governo tem que ouvir o povo. O governo sempre tem "ouvidos moucos" para as reinvindicações populares que não trazem consigo uma expressão de força de mobilização. Gostaria de lembrar que na Época do "petroleo é nosso", no "fora collor" também vários acharam que aquela não era a forma correta de se fazer...

Santa Rosa
CRMV-MG 4991
DMV-UFLA

wwwfotografeimasnaopostei disse...

Ju, Juliana, Ju Semedo,

não sei se são uma ou mais, mas vamos lá. Acho que a ideia de sociedade e governo que você tras é uma ideia romantica e longe da realidade. Outras formas de protestar? Quando se parte para o protesto se tem claro que o caminho do dialogo não está efetivamente aberto, se estivesse teria sido resolvido com um dialogo, com uma audiência. Mas não se engane que nem sempre a "abertura ao dialogo" do governo é tão verdadeira quanto pode ser o dialogo com um surto que não faz leitura labial nem usa linguagem de sinais. O dialogo é só uma ensenação.
Quanto a juventude de hoje fazer de forma errada eu pergunto: qual a forma certa? Não me responda com uma visão cor de rosa de que há vias institucionais e que o governo tem que ouvir o povo. O governo sempre tem "ouvidos moucos" para as reinvindicações populares que não trazem consigo uma expressão de força de mobilização. Gostaria de lembrar que na Época do "petroleo é nosso", no "fora collor" também vários acharam que aquela não era a forma correta de se fazer...

Santa Rosa
CRMV-MG 4991
DMV-UFLA

blogdamodesta disse...

A comissão que avaliará eventos na Praça da Estação já começou a trabalhar. Veja:"Ideias e colaborações podem ser enviadas para o e-mail webmaster@pbh. gov.br." Fiquem atent@s.
Não deixe de enviar a sua ideia!