18 de março de 2010

Artistas independentes no Brasil: música além das majors funciona

Em um artigo para Music Dish (jornal online sobre a indústria musical), David McLoughlin (Apex-Brasil) fala a Michele Wilson-Morris sobre as formas inovadoras que os músicos independentes brasileiros fizeram para ser ouvidos, totalmente à margem das majors.


Durante a Conferência MIDEM, tive a oportunidade de falar com David Mcloughlin da BM&A (Brasil Música E Artes). David tem muita informação interessante pra compartilhar sobre o mercado musical brasileiro, principalmente sobre como a música independente encontrou um jeito muito inovador de fazer sua voz (e música) ser ouvida - sem a ajuda das majors.








A BM&A é patrocinada pela Apex-Brasil, cujo objetivo é aumentar o número de empresas exportadoras brasileiras e consolidar a presença do país nos mercados tradicionais, abrindo portas para produtos brasileiros. A Apex surgiu em novembro de 1997, via decreto presidencial, e funcionou como departamento especial do SEBRAE até fevereiro de 2003, quando foi renomeada Apex-Brasil e começou a atuar como agência autônoma associada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

As majors têm tradicionalmente controlado a indústria musical brasileira, com repertório local que soma 70% do mercado. Nos últimos 15 anos, entretanto, observou-se um aumento significante no mercado de produção independente, que lança até 4 ou 5 novos álbuns por ano. Recentemente, por necessidade, a maior parte dos artistas independentes lançam seus próprios álbuns, mesmo que os tradicionais pontos de venda sejam uma raridade; uma vez que a maior parte dos selos de gravação começou a vender seus produtos a preços baixíssimos para cadeias de supermercados, assim como aconteceu no Wal Mart nos Estados Unidos, acabavam-se as pequenas lojas de discos. E com o fim delas, os artistas independentes não têm por onde vender seus produtos. Grande parte dos selos independentes bem estabelecidos (estimados por volta de 150) estão diversificando em outras áreas, seja vendendo livros de crianças, shows ou assumindo projetos culturais.

Nos anos mais recentes, à partir da nova tecnologia somada ao uso da internet (tanto como ferramenta de negócios como de promoção) observamos um aumento massivo do número de artistas independentes focados tanto no aspecto artístico quanto no aspecto de gestão de suas carreiras. Entrar numa indústria que, ou está morrendo, ou está no sofrimento do parto, dependendo do seu ponto de vista, eles se veem obrigados a buscar e desenvolver novos modelos.

Em Cuiabá, Mato Grosso, produtores culturais criaram o Cubo Card, um sistema de troca onde artistas e produtores trocam servicos. Isso permitiu com que artistas ganhassem acesso a estúdios, músicos de boa qualidade e boas gravações, que comecaram a gravar demos, álbuns, organizar shows - um mundo que anteriormente estava fora do alcance econômico dos artistas independentes. A iniciativa não apenas coloca músicos juntos num estúdio - dá a eles acesso a jornalistas, designers, fotógrafos, produtores de vídeo e até hotéis e restaurantes, entre outros. O projeto está, atualmente, sendo abraçado pelo setor independente por todo o país.

O mais impressionante é que isso vem sendo feito nos últimos 2 a 3 anos. Quando a Revista Rolling Stone Brasil anunciou os top 50 álbuns de 2008, o primeiro foi o do Macaco Bong, trio instrumental de rock. Vanguart, outra banda independente, também estava entre os top 20. Ambas surgiram a partir do esquema do Cubo Card.




Atualmente, varias cidades têm festivais locais, e músicos de uma região viajam a outra para tocar. Para atingir a demanda dos artistas que queriam tocar nos festivais, organizadores de diversos festivais criaram a ABRAFIN. A ABRAFIN coordena as datas dos festivais para permitir que as bandas entrem em turnês. Para facilitar o traslado das bandas entre festivais, cada festival mostrou ao seu governo local quanto estava sendo gerado - empregos, receita - a partir destes. Com o crescimento desse setor, aumentaram também as associações e cooperativas de produção cultural. Esses grupos organizam os artistas tanto política quanto profissionalmente.









Em nível profissional, muitas das organizações começaram a trabalhar com os SEBRAEs, que em conjunto com a BM&A organizam cursos de capacitação e conferências sobre temas relacionados à produção cultural, como distribuição, direito autoral e incentivos fiscais para projetos culturais. Muitos estados brasileiros estão desenvolvendo programas de exportação junto a BM&A para dar vazão ao seu trabalho. A frase que mais corre nesse meio atualmente é a economia da cultura. Os SEBRAEs, os coletivos e cooperativas mapeam a produção cultural local, áreas que requerem investimento público e parceiros para auxiliar no processo.

A BM&A, junto com parceiros regionais, promove a cada seis meses o "Comprador & Imagem", projeto no qual convidados internacionais de diferentes áreas dentro da indústria musical são convidados ao Brasil para conhecer produtores locais e trocar metodologias, informações e gerar oportunidades de negócio.

Mesmo que muitos artistas ainda adorariam ter contrato com uma major, isso já não se prova relevante. Mesmo com repertório na rádio e distribuição de cds limitada, eles conseguem alcançar sucesso. A cena independente brasileira está se fortalecendo. Quase 50 bandas independentes brasileiras tocaram em festivais como SXSW, Womex e CMJ entre 2009 e 2010, e estes números estão aumentando.

Entao qual é a lição a ser aprendida? Bom, que a internet é uma ferramenta poderosa que dá acesso a informação que as pessoas antes não possuiam. E que à partir dela, as pessoas que adquirem conhecimento, se articulam e são determinadas encontram nela o caminho pra fazer as coisas acontecerem.

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